![]() |
"Que dizes Tu?" |
Diante daquela afronta à Lei, o apedrejamento era pouco para aquela mulher. Eu, respeitador dos bons costumes, homem temente a Deus, não poderia me calar: juntei-me à pequena multidão que desejava fosse feita justiça.
Não sei ao certo por qual razão, os sacerdotes resolveram levá-la, antes, à presença de um
galileu a quem diziam profeta. Alguns o tinham pelo Messias. Imagine só, o “Messias”, vindo
da Galileia! Acaso existe algo além de poeira e pobreza naquela terra esquecida por Javé?
Ao chegar aonde o tal profeta se encontrava, vi-o tracejando algo na areia; decerto alguma
profecia antiga e obscura, cujos detalhes ele temia esquecer antes de ser desmascarado pelos
doutores da lei.
Gritei, incitado pelos sacerdotes, palavras de repúdio à adúltera. O galileu continuou seus
rabiscos no chão. Senti-me afrontado e ainda mais furioso com seu silêncio.
Eis que bradaram que a Lei de Moisés mandava apedrejá-la. “E tu, o que dizes?”,
indagaram-lhe. Agora não havia saída também para ele: se contestasse a Torá poderíamos
apedrejá-lo, por blasfêmia.
Ao se levantar, porém, os olhos do galileu de relance encontraram os meus. Não lembro ao
certo suas palavras, nem quanto tempo durou sua lição, mas ouvi o som de pedras
sendo soltas ao chão, e senti a fúria da turba se dissipar como se levada por uma brisa suave
do Tiberíades.
Enquanto me afastava, virei-me uma vez mais e o vi conversando com a mulher.
Não sei o que o galileu lhe dizia. Gostaria de saber. Mas segui meu caminho, pedindo a Javé que me inspirasse a não pecar mais.
Não sei o que o galileu lhe dizia. Gostaria de saber. Mas segui meu caminho, pedindo a Javé que me inspirasse a não pecar mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário